Segunda-feira, 26 de Fevereiro de 2007

O 'Príncipe dos Poetas do seu tempo' - Luís de Camões

Na nossa reportagem, vamos acompanhar o jau António (que foi escravo de Camões) durante um dia. Vamos saber mais sobre Camões visitando a sua casa onde viveu os últimos anos da sua vida. Jau vai ajudar Édito Sá, o nosso reporter para terminarmos a tarefa da 3.ª Semana do Sapo Challenge.

Será uma reportagem assente em factos (ou pelo menos suposições) sobre a vida do "Príncipe dos Poetas" que vão sair da boca de alguém que não sabe muito bem quem era mas que devia saber muito sobre Camões pois foi seu escravo durante muito tempo.



Miserável Príncipe

"Aqui jaz Luís Vaz de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu." Eis a vida do autor de uma obra de valor inigualável, "Os Lusíadas". Faleceu no passado mês, em casa, vítima de peste... Mas quem é Camões afinal? Que obra é essa, aplaudida até por Sua Majestade, El-rei D. Sebastião?

Édito Sá.

O odor pestilento que abunda no quarto é muito pouco convidativo. Cheira a doença, cheira a carne em decomposição. Mas não há nenhum cadáver no compartimento. Camões foi levado há quase um mês, no entanto, ninguém deve ter entrado naquele quarto a não ser para levar os restos mortais do poeta e as roupas da cama. No quarto não entra luz suficiente e o ar está pesado. Há uma névoa no ar, causada certamente pela fogueira, agora apagada, que torna a atmosfera do quarto quase irrespirável. As paredes estão negras: consequência do fumo, certamente. Assim se descreve o último lugar que Camões viu na sua vida terrena. As suas últimas horas devem ter sido agonizantes porque as febres altas que o atingiram não costumam ser brandas e fustigam todos aqueles que adoecem com a Peste. «Foi uma pena ver o senhor Camões partir...», desabafa o escravo jau, António, que acompanhou os últimos anos de Camões desde que foi comprado por ele, em Moçambique.
 
Jau, o fiel companheiro
Durante muitos anos esteve ao serviço do poeta, agora sentado na cozinha fria da casa de Camões na Mouraria, o javanês lembra todas as vezes que Camões, sem alento, desabafava com ele: ou por falta de sorte nas suas relações amorosas, ou pela falta de saúde de sua mãe, Ana de Sá, ou mesmo porque o dinheiro não chegava...
Lembra-se também de ouvir com atenção o seu senhor recitando o seu poema épico. «Nunca aprendi a ler, mas sei muito daquele livro pelo que ouvi. Oh! O senhor Camões tinha sê's olhos a brilhar no dia em que teve a autorização d'El-Rei pa' publicar "Os Lusíadas". Tant' orgulho que ele tinha! Nã' dormiu na noite antes do livro ser publicado!». Também o escravo tinha um brilho nos olhos quando falava no seu senhor. Era-lhe tão fiel, que chegou mesmo a pedir esmolas para ele sem que o poeta soubesse. Sentia uma vontade enorme de falar do livro. Referia-se ao livro como se fosse filho primogénito do seu senhor.
 
«O senhor queria lembrar todos os Portugueses»
«O meu senhor tinha um amor maior p'la Pátria que p'las mulheres que amava, por isso escreveu o livro». Começou a recitar os primeiros versos do poema, que tinha decorado, enquanto que uma lágrima lhe escapava dos olhos. «O poema do mê’ senhor é lindo. Foi feito com tant’ amor e dedicação…» Neste momento, teve de limpar os olhos. «Ainda nã’ aceitei que o meu senhor está morto… Eu até gostava dele… Onde já se viu um escravo a pedir esmola às escondidas do sê’ senhor?».
«Quando o conheci, contou-me as suas aventuras p’lo Oriente. Oh! Compreendo o qu’ele quer dizer quando chora pela sua falta de sorte… Ele amou tantas mulheres e nunca teve sorte com nenhuma…». Começou a lembrar a história do naufrágio ao largo do Camboja, onde salvou ‘Os Lusíadas’ e deixou a sua amada para trás… «Dinamene [a sua amada] morreu no naufrágio e ele nada pôde fazer. Contou-me também que pior, só quand’ soube que D. Catarina d’Athaíde tinha falecido.»
Pobre escravo. Foi o grande pajem do “Príncipe dos Poetas”: sabe tudo sobre ele, mas nunca será lembrado.
 
Uma Pátria mal agradecida
À tarde, agora em frente ao túmulo do poeta, o jau António ora por ele. «O mê’ senhor Camões estava muito triste nestes últimos tempos… Acho que morreu de desgosto…». Estava a referir-se à crise na sucessão ao trono: El-Rei D. Filipe II de Espanha diz ser o mais legítimo sucessor do trono e teme-se a perda da independência. «Ele lamentava-se muito… Dizia que, quando morresse, a Pátria morria com ele! Dizia que vamos perder tudo…». O medo via-se nos olhos do javanês.

Os restos mortais de Camões repousam perto do Convento de Santana. A Companhia dos Cortesãos pagou as despesas do seu funeral. Pode-se ler agora, no lugar onde descansa para a eternidade uma lápide mandada fazer por D. Gonçalo Coutinho: "Aqui jaz Luís Vaz de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu".

Agosto de 1572

FONTES:
GAIO, Tiago. Biografia do Autor. Acedido em 24 de Fevereiro de 2007. Os Lusíadas, http://oslusiadas.no.sapo.pt/biografia.html
Luís Vaz de Camões. Acedido em 24 de Fevereiro de 2007. Os Lusíadas,http://www.vidaslusofonas.pt/luis_de_camoes.htm
Acedido a 25 de Fevereiro de 2007. http://www.universal.pt/scripts/hlp/mm/FHLP364_z.JPG
Acedido a 24 de Fevereiro de 2007. http://www2.dlc.ua.pt/classicos/Camoes.jpg

Feeling do Clã: Criámos o jau a partir do nada
publicado por lusiadas às 23:23

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